Resumo:O mercado financeiro iniciou esta quarta-feira (22) com movimentos cautelosos, refletindo um cenário de incerteza fiscal no Brasil e de volatilidade global nos preços do ouro e do dólar. Enquanto o dólar à vista mantém-se praticamente estável em torno de R$ 5,38, o ouro oscila em alta leve, acompanhando a fraqueza pontual do dólar frente a outras moedas e a busca dos investidores por proteção cambial.

Publicado em 22/10/2025
O mercado financeiro iniciou esta quarta-feira (22) com movimentos cautelosos, refletindo um cenário de incerteza fiscal no Brasil e de volatilidade global nos preços do ouro e do dólar. Enquanto o dólar à vista mantém-se praticamente estável em torno de R$ 5,38, o ouro oscila em alta leve, acompanhando a fraqueza pontual do dólar frente a outras moedas e a busca dos investidores por proteção cambial.
Com a agenda de indicadores esvaziada, o foco do mercado volta-se para Brasília, onde o governo tenta avançar com novas medidas fiscais após o fim da validade da Medida Provisória 1303, e para o cenário internacional, que observa com atenção o encontro previsto entre Lula e Donald Trump no próximo domingo, durante a cúpula da Asean, na Malásia.
Dólar Mantém Estabilidade em Meio a Pressões Fiscais
Às 9h08, o dólar à vista operava em leve baixa de 0,06%, cotado a R$ 5,387 na venda, enquanto o contrato futuro para novembro subia 0,01%, a R$ 5,401. O movimento discreto mostra a ausência de direção clara para o câmbio brasileiro neste início de dia.
O Banco Central programou para 11h30 um leilão de 40 mil contratos de swap cambial, dando continuidade à rolagem dos vencimentos de novembro — uma medida que busca reduzir a volatilidade e oferecer proteção aos investidores diante das incertezas fiscais.
Na terça-feira (21), o dólar havia encerrado o pregão em alta de 0,37%, cotado a R$ 5,3903, impulsionado por ajustes técnicos e pela percepção de risco político crescente.
O dólar comercial nesta quarta-feira é negociado a R$ 5,386 na compra e R$ 5,387 na venda, enquanto o dólar turismo aparece em R$ 5,437 (compra) e R$ 5,617 (venda) — um diferencial que reflete os custos adicionais embutidos nas transações de varejo.
Incerteza Fiscal Volta ao Centro das Atenções
O mercado cambial reagiu de forma contida, mas atenta, às declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que prometeu reenviar ao Congresso Nacional dois projetos de lei com temas centrais da extinta MP 1303, incluindo tributação de aplicações financeiras, taxação de bets e ajustes de despesas públicas.
A MP era considerada crucial para a meta de equilíbrio fiscal de 2026, mas perdeu validade no início do mês após ser retirada da pauta da Câmara. A ausência de novas propostas concretas gera incerteza sobre a sustentabilidade das contas públicas — um fator de pressão constante sobre o real.
Economistas alertam que sem uma sinalização clara de ajuste fiscal, o mercado pode voltar a precificar risco elevado para os ativos brasileiros, elevando o dólar em direção à resistência técnica de R$ 5,42.
Cenário Internacional: Encontro Lula–Trump e Cautela Global
Além do quadro interno, investidores monitoram o cenário geopolítico. Lula e Donald Trump devem se encontrar no domingo (26), em Kuala Lumpur, durante a cúpula da Asean.
O encontro ocorre em meio à reaproximação entre Brasil e EUA e pode discutir barreiras tarifárias e acordos comerciais estratégicos, especialmente no setor de terras raras, um tema de crescente interesse norte-americano.
O ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, afirmou que há possibilidade de suspensão da tarifa de 40% imposta pelos EUA sobre determinados produtos brasileiros — um avanço que poderia fortalecer o real caso se confirme.
Ouro Avança e Reforça Posição Como Refúgio
Enquanto o dólar se mantém estável, o ouro (XAU/USD) mostra leve valorização, refletindo o movimento global de cautela. Nesta quarta-feira, o metal é negociado próximo a US$ 4.215 por onça troy, acumulando alta de 0,4% no dia e mantendo-se acima do patamar psicológico de US$ 4.200.
A valorização do ouro é impulsionada pela incerteza fiscal no Brasil, pelo temor de desaceleração econômica global e pela expectativa de novos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed).
De acordo com analistas, a relação entre o ouro e o dólar segue inversa e sensível: quando o dólar ganha força globalmente, o ouro tende a ceder; quando a moeda americana perde impulso, o metal se valoriza.
No mercado doméstico, a cotação acompanha o câmbio. Com o dólar a R$ 5,39, uma onça de ouro equivale a aproximadamente R$ 22.720, o que eleva o preço da grama do metal a cerca de R$ 716,55, consolidando o ouro como um dos ativos mais valorizados de 2025.
Ouro em Real: Proteção Contra a Volatilidade Cambial
Para o investidor brasileiro, o ouro continua sendo uma alternativa de proteção natural contra a desvalorização do real e o aumento das incertezas fiscais.
Em 2025, o metal acumula alta superior a 35% em reais, impulsionado pela combinação de juros menores nos EUA, déficits orçamentários locais e busca por segurança global.
Enquanto o real sofre com o ambiente político e econômico, o ouro apresenta comportamento defensivo, atraindo tanto investidores individuais quanto grandes fundos de proteção.
A cotação do ouro em reais (XAU/BRL) tende a seguir em alta moderada, especialmente se o Banco Central mantiver o ritmo gradual de corte da taxa Selic e o governo não apresentar medidas fiscais concretas até o fim de outubro.
Correlação Dólar–Ouro: Um Termômetro da Confiança
O movimento sincronizado de estabilidade do dólar e alta do ouro reforça o sentimento de precaução entre investidores. Essa correlação inversa reflete o dilema atual dos mercados: enquanto a confiança na moeda americana é sustentada pelos riscos globais e pelos rendimentos dos Treasuries, o ouro permanece atraente como refúgio diante da incerteza política e fiscal.
Com o índice do dólar (DXY) oscilando perto de 99 pontos, e a inflação do Reino Unido vindo abaixo das expectativas, há espaço para uma leve correção do dólar frente às moedas desenvolvidas. Esse movimento, porém, ainda não foi suficiente para alterar significativamente o câmbio brasileiro.
Expectativas do Mercado: O Que Observar Nos Próximos Dias
Os próximos dias serão decisivos para definir o rumo do câmbio e dos metais preciosos. Os investidores monitoram:
- Leilões de swap cambial do Banco Central, que podem limitar variações abruptas do dólar;
- Divulgação do fluxo cambial até 17 de outubro, prevista para a tarde de hoje;
- Reação do Congresso às novas propostas fiscais;
- Indicadores de inflação e PIB nos EUA, que impactam diretamente o ouro e o dólar global.
Se o governo brasileiro conseguir apresentar um pacote fiscal consistente, há potencial para o real ganhar força e o dólar recuar abaixo de R$ 5,35. Em contrapartida, a ausência de medidas concretas pode elevar o câmbio de volta à faixa de R$ 5,45–R$ 5,50, especialmente se o cenário externo permanecer incerto.
Conclusão: Estabilidade Frágil e Risco no Horizonte
A estabilidade atual do dólar frente ao real mascara um ambiente de vulnerabilidade crescente. O equilíbrio cambial observado nesta quarta-feira é sustentado por intervenções pontuais do Banco Central, pela entrada temporária de fluxos estrangeiros e por uma trégua momentânea nos mercados internacionais. No entanto, o cenário estrutural segue desafiador: o Brasil enfrenta pressões fiscais, inflação persistente e incertezas sobre a condução da política monetária nos Estados Unidos — fatores que podem rapidamente inverter o quadro atual.
O dólar, cotado em torno de R$ 5,38, demonstra força relativa em meio à ausência de gatilhos positivos domésticos, enquanto o ouro, negociado próximo a US$ 4.230 por onça, mantém-se como refúgio de valor preferencial em um ambiente de risco global. Essa combinação reforça o dilema dos investidores: proteger capital ou buscar rentabilidade.
A curto prazo, é provável que o câmbio continue oscilando dentro de uma faixa estreita, com o real reagindo mais às notícias fiscais e políticas internas do que a fatores externos. Porém, qualquer sinal de deterioração das contas públicas ou reversão no fluxo cambial pode impulsionar o dólar acima de R$ 5,45.
Já o ouro deve seguir com viés altista, sustentado pela queda dos rendimentos dos Treasuries e pela perspectiva de novos cortes de juros pelo Federal Reserve. Para quem busca proteção, o metal continua sendo uma alternativa sólida frente à volatilidade cambial.
Em síntese, o mercado cambial brasileiro inicia a segunda metade de outubro equilibrado apenas na superfície. Por trás da aparente estabilidade, há fatores de risco latentes que podem redefinir a trajetória do dólar e do ouro nos próximos dias. O investidor atento deve manter diversificação de portfólio, gestão de risco rigorosa e acompanhamento diário das decisões econômicas nacionais e internacionais — pois, no atual contexto global, a linha entre estabilidade e turbulência permanece tênue.
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